Estratégias “pós-pandemia”: e agora, como estamos?

Um dos principais indicadores econômicos para um país é o mercado de trabalho. Segundo os institutos de pesquisa, é a partir do levantamento da quantidade total de pessoas empregadas X quantidade total de pessoas desempregadas, que conseguimos verificar as condições econômicas de uma nação.

O Covid-19 serviu como um alerta para a população mundial, principalmente em termos de saúde e perdas econômicas. E hoje, mesmo com a diminuição dos casos e maior controle da doença através da vacinação e do incentivo aos cuidados à saúde, percebemos que há indicação de crises mundiais e que as consequências ainda se manifestarão tanto no curto como no longo prazo. Motivo pelo qual, todo cuidado é pouco. Afinal, a pandemia não acabou, o desemprego ainda é alto em diversos países e as pessoas ainda precisam de auxílio para cuidar de suas vidas e garantir a sobrevivência de suas famílias.

Agora, considerando as observações sobre o Covid-19 realizadas logo acima, e os índices de desenvolvimento econômico: Será que indicadores de desemprego bastam para comprovar a estabilidade econômica e social de um país que ainda sofre com as consequências de uma pandemia?

Estratégias realizadas no Brasil

No Brasil, como efeito da pandemia, tivemos um grande aumento no número de pessoas desempregadas. No começo de 2021, segundo dados do IBGE, o desemprego havia atingido cerca de 15,2 milhões de brasileiros somente no primeiro trimestre do ano. Condição que ocasionou no aumento do número de pessoas trabalhando na informalidade devido à falta de empregos com carteira assinada nos mais diferentes setores da economia. E também revelou uma alta do empreendedorismo por necessidade para aqueles que encontraram novos meios de garantir renda diante de um período tão sombrio.

Entretanto, em janeiro de 2022, um novo levantamento do Ipea demonstrou que houve um aquecimento do mercado de trabalho e o número de pessoas desempregadas recuou de 14,7% (dados de janeiro de 2021) para 11,4% durante o mesmo período do ano subsequente. Índice alcançado graças à diminuição dos casos de Covid-19, à readequação do trabalho realizada por grande parte das empresas e ao crescimento do empreendedorismo.

E como readequação do trabalho podemos citar as mais diferentes alternativas encontradas para minimizar os impactos econômicos da pandemia tais como: a adesão ao home office, os incentivos e programas do governo e os serviços de pedidos por entrega (estratégia que salvou muitas empresas do segmento alimentício, como restaurantes, lanchonetes e pizzarias).

Os empresários, durante o ápice da pandemia, tiveram que se desdobrar para manter seus negócios e as pessoas que perderam seus empregos passaram a trabalhar informalmente com a venda dos mais diferentes tipos de produtos e a prestação de diversificados serviços, como forma de garantir renda para suas famílias.

E mesmo diante do aumento do índice de empregos podemos perceber que a melhora não foi assim tão significativa. Principalmente quando andamos pela cidade e percebemos a grande quantidade de famílias em situação de rua vivendo em praças, embaixo de pontes e marquises e espalhadas por todos os cantos, pedindo dinheiro, comida ou qualquer ajuda que lhe possam dar.

O que comprova que o aumento da quantidade de pessoas empregadas é sim um demonstrativo de avanço e recuperação da economia, mas não pode ser encarado como único índice relevante quando observamos aspectos humanos e sociais.

Acesso à moradia no Brasil e no mundo

Segundo dados divulgados pelo Ipea, a população de rua cresceu cerca de 140% a partir de 2012 e em março de 2020 já haviam mais de 222 mil pessoas em situação de rua em todo o território brasileiro. A crise sanitária do Covid-19 contribuiu ainda mais para o aumento deste número e como ainda não foram divulgadas novas pesquisas de institutos de pesquisas oficiais sobre este tema, sendo essa de 2020 a mais recente, só podemos contar com aquilo que nossos olhos podem ver. E o que vemos torna-se a cada dia mais alarmante.

Tanto que no Estado de São Paulo, a população tem cobrado a criação de políticas de resgate para esse grupo que tem se espalhado em números cada vez maiores, principalmente, nos grandes centros comerciais da capital. Somente na capital paulista o número de famílias em situação de rua aumentou em 31% nos últimos dois anos. E como não há um censo para realizar a confirmação de dados estatísticos mais claros sobre a dimensão do problema, os paulistas tem exigido que os governantes de suas cidades tomem providências para a diminuição deste índice. De acordo com os últimos dados de pesquisa divulgados, São Paulo contava com aproximadamente 15.000 pessoas vivendo em situação de rua no ano de 2015, já ao final de 2021, o número passou a ser de aproximadamente 32.000 pessoas.

Condição que comprova que o aumento da oferta de empregos e da quantidade de pessoas empregadas não é suficiente para sanar os efeitos da crise econômica agravada pela pandemia do Covid-19. Mesmo porque o preço do valor dos aluguéis e da prestação das parcelas de moradias financiadas continuou a subir mesmo diante da crise. E esse boom imobiliário tem acontecido em praticamente todas as capitais brasileiras.

Em conversas com amigos que vivem no Brasil fui informada de que nas principais cidades de Santa Catarina, como Florianópolis, Balneário Camboriú e Itajaí, para alugar uma casa de dois quartos, uma família precisará pagar cerca de R$ 1.600,00 de aluguel mensal. Em Curitiba, no Paraná, os aluguéis também estão nesta faixa de preço. Agora lhes pergunto, como um pai de família que ganha um salário mínimo (R$ 1.212,00) consegue arcar com os custos de moradia e alimentação de sua família pagando um valor tão alto de aluguel? A resposta é simples: não consegue.

Motivo pelo qual hoje o que vemos são “famílias em situação de rua” e não somente “indivíduos em situação de rua”. São barracas espalhadas por praças, carros velhos espalhados pelas ruas (vans antigas e kombis) e famílias inteiras pedindo dinheiro em semáforos. Portanto, a questão vai muito além de índices de emprego. Temos que fazer um levantamento mais preciso do índice de moradia.

O que vivemos atualmente no Brasil e observamos em grandes cidades de todo o mundo, é uma situação de emergência habitacional.

Em Nova York, por exemplo, existem hoje cerca de 50.000 pessoas vivendo em abrigos temporários do governo e cerca de 3.000 espalhadas pelas ruas da cidade. Portanto, estamos diante de um problema social global que exige a criação de medidas políticas e sociais por parte de todos os governantes do mundo.

A disponibilidade de capital financeiro para ativos imobiliários é tão grande e atrativa para a economia deste setor, que as necessidades de moradia da população são deixadas em segundo plano. Sendo assim, não é uma grande surpresa que a crise ocasionada pelo Covid-19 tenha trazido efeitos tão devastadores para a população brasileira e também para outros países do globo em termos de moradia.

O governo de São Paulo abriu recentemente um chamado público visando a criação de moradias e espaços de acolhimento, porém, até o momento ainda não foram definidos critérios relacionados à locais, disposição, construção e acesso para as pessoas que vivem em situação de rua. Mas, por outro lado, temos que considerar que ações começam a ser realizadas e isso por si só, já representa ser um grande avanço.

Finlândia, um caso de sucesso

A Finlândia, por exemplo, é um dos poucos países do mundo que, mesmo diante da crise do Covid-19, possui um baixo número de pessoas em situação de rua. Com a política de “Habitação em Primeiro Lugar”, ativa desde 2008, o país diminuiu em 40% o número de pessoas desabrigadas por meio de uma iniciativa simples: quem não tem onde morar, recebe uma casa do governo e apoio para permanecer nela. Como resultado deste sistema de apoio, 4 em cada 5 pessoas, mesmo que acometidas por alguma doença ou vício, voltam a ter uma vida estável e muitas destas conseguem retornar para o mercado de trabalho. Claro que neste caso devemos considerar que a Finlândia tem apenas 5,5 milhões de habitantes, e que investiu muito para viabilizar este projeto. Mas, por outro lado, é louvável o fato de que conseguiu garantir a readequação e adaptação destas pessoas na sociedade. E possibilitou às mesmas a chance de contribuir e crescer economicamente em equivalência a qualquer outro cidadão que vive em seu território.

Portanto, mesmo com o impacto da pandemia, ainda há esperança para todo o mundo, mas para garantirmos uma vida mais digna para essa camada da população, medidas precisam ser tomadas.

E quanto a você: observou alguma alteração no número de pessoas em situação de rua em sua cidade? Me conta nos comentários!

Sirlei Stocchero – Mentora Internacional