Há uns dias atrás, pesquisando algumas notícias na internet me deparei com uma reportagem que dizia algo mais ou menos assim: “Geração Z representa o grupo de trabalhadores que mais trocam de empregos por outro melhor e depois se arrependem da decisão” e logo em seguida em outras páginas e sites da internet, localizei matérias semelhantes, algumas falando sobre a recusa dessa geração de retornar ao trabalho presencial após a baixa dos casos da Pandemia do Covid-19, outras comentando sobre o perfil impaciente e a infelicidade demonstrado relacionada a empregos e tantas outras tratando sobre a mudança de paradigma entre o significado de profissão e carreira para essa nova geração. Infelizmente não peguei o referencial de todas para citar aqui, mas diante das observações que li, pude perceber como as coisas mudam rápido de geração em geração e como, graças a tecnologia, o mundo do trabalho também mudou em um ritmo assustadoramente acelerado.
Nos dias atuais, as pessoas não precisam mais sair de casa para adquirirem um novo conhecimento ou concluírem uma graduação. Se profissionalizam em casa, aprendem em casa e é esta a liberdade que esta geração busca também quando entra no mercado de trabalho. Muitos não querem mais sair da cama cedo, cumprir horário, encarar horas de ônibus, tanto para ir como para voltar do trabalho ou da faculdade e sofrer com todo o estresse e correria de ter que conciliar vida pessoal e profissional. Hoje, graças a evolução tecnológica, existem diferente profissões e carreiras voltadas para o campo da programação, criação de dados e desenvolvimento de programas, que necessitam apenas de algumas ferramentas para a realização do trabalho, portanto, o indivíduo que tem em casa um bom computador (com uma placa de vídeo robusta), um notebook, câmeras de vídeo, dentre outros equipamentos, não precisa mais se deslocar de um lado para o outro para ganhar espaço na sua área de atuação. Ele pode trabalhar em casa, fazer reuniões por chamadas de vídeo e ainda ter tempo para cuidar das exigências do dia a dia, da família, dos seus animais de estimação e do seu lazer.
Então não chega a ser uma surpresa o fato de que tantos tem seguido este caminho e tantos outros estejam tão desacostumados e pouco engajados em conviver com as exigências de um modelo de trabalho “mais antiquado” e tradicional. Os meios de comunicação trazem tanta informação, em uma velocidade tão difícil de acompanhar, que o sujeito pode estar empregado em uma determinada área, e no mesmo instante, se preparando para desbravar novas oportunidades em outra. Afinal, vivemos em um cenário onde o vínculo e o desenvolvimento de carreira em uma única empresa, já não representam em atrativos tão empolgantes. O jovem tem pressa, quer aprender, ver, conhecer e conquistar e não quer esperar anos até receber reconhecimento por seus feitos.
E eu, como representante de uma outra geração, observo, compreendo e de certa forma, entendo. Há uma linha de estudos em Estatística, também utilizada em alguns campos da Psicologia do Desenvolvimento, que separa os grupos de indivíduos em coortes, afirmando que os grupos tendem a diferenciar-se de acordo com as realidades que vivem em um dado momento. Sendo assim, um grupo de pessoas jovens, que sobreviveu e conviveu com a guerra nos anos 40, vai sair deste período com um maior senso de patriotismo, trabalhará com afinco para dar boas condições de vida para as suas famílias e terá uma visão mais conservadora com relação ao dinheiro. Passados aproximadamente 20 anos, seus descendentes, que vieram de períodos de paz, terão tendências mais consumistas e provavelmente valores, condutas e desejos diferentes daqueles indivíduos que os originaram. As coortes mudam de acordo com as mudanças de situações, condições e ambientes.
E são estas as mudanças que presenciamos agora. Nossos filhos, em número cada vez maior, não veem mais a faculdade como um caminho para o sucesso e não desejam mais serem aprovados em uma universidade federal ou estadual para conquistarem bons trabalhos no futuro. Estão mais engajados em descobrir outras possibilidades no ambiente virtual que possibilitem a obtenção de um bom salário, em um prazo bem menor de tempo. Assim que surgem as inovações tecnológicas, as startups, os novos negócios e uma infinidade de oportunidades que transformam não só o indivíduo, mas todo o mercado de trabalho.
Neste contexto, o que nós, adultos com mais experiência podemos oferecer a essa nova geração? A resposta é muito simples: orientação.
Precisamos deixá-los cientes de que as pessoas alcançam suas conquistas em tempos diferentes e que não é porque fulano virou Influencer e ganha fortunas ou ciclano iniciou um projeto tecnológico que se transformou em um negócio de sucesso, que a resposta está ali disponível e pronta para todos. Trilhamos caminhos diferentes e às vezes, mesmo seguindo a mesma fórmula, podemos não chegar ao mesmo resultado. É preciso ter mais paciência e deixar que o tempo trabalhe a nosso favor.
Agora voltando um pouquinho a reportagem que citei no primeiro parágrafo do texto: por que será que os jovens se arrependem de pedir demissão de seus trabalhos quando o fazem precipitadamente? Acredito que todos saibamos bem qual é a resposta. Nenhum trabalho é perfeito o tempo todo e infelizmente, para nos mantermos nele, temos que aceitar alguns perfis de pessoas ou ambientes que não nos agradam tanto assim, mas por outro lado, tudo que é feito a partir do nosso esforço pessoal, com o tempo, agrega valor e gera resultado. E é por isso mesmo que penso que o desafio para as gerações atuais não é conquistar uma profissão, mas sim fazer carreira através de uma profissão. É necessário ter maturidade e consciência suficientes para entender que salários podem melhorar, condições podem melhorar e tudo que traz experiência profissional, cedo ou tarde, será visto, admirado e reconhecido por um outro alguém que proporcionará melhores oportunidades diante de tudo aquilo que o indivíduo aprendeu e realizou.
Essa ansiedade sem controle diminui a confiabilidade das empresas que já não sabem se os gastos com a contratação e treinamento valerão a pena, dado o pouco tempo que os jovens costumam permanecer em seus cargos e funções. Motivo pelo qual, hoje, grande parte das contratações tem como alvo perfis profissionais com um pouco mais de idade e consideram como fator positivo o tamanho da família e a real necessidade do emprego para o indivíduo.
Cargos mais tecnológicos buscam por conhecimentos mais específicos e atuais e são nestas funções que os indivíduos da Geração Z se destacam, mas, seguindo a orientação dos parágrafos anteriores, mesmo para estas áreas é preciso paciência e calma até chegar a um patamar que permita alcançar maior autonomia no mercado de trabalho.
Gerações mudam, as pessoas mudam, novas profissões surgem e modalidade de trabalho também se modificam ao longo do tempo, mas tem uma coisa que sempre continuará igual: todos os trabalhos, mesmo aqueles realizados com um viés mais tecnológico, precisam de alguém atuando na linha de frente ou nos bastidores para torná-los úteis e funcionais. Empresas precisam de funcionários que as auxiliem a promover seus crescimentos e funcionários precisam de empresas que invistam neles e proporcionem um espaço para que estratégias sejam criadas e estes sejam valorizados pelas suas contribuições.
Portanto, se conseguiu uma boa oportunidade de trabalho aproveite-a ao máximo e quando perceber através de fatos comprovados, que já pode seguir para um novo caminho, mais lucrativo e que lhe garanta maior autonomia e independência, siga sem medo. O erro não consiste no fato de que você mudou o direcionamento para alcançar algo melhor, mas sim na falta de preparo, conhecimento ou maturidade para encarar de frente e sem arrependimentos esta nova jornada.
E agora me conta: Como é a sua relação com o mundo do trabalho? Como vê, no futuro, essa nova geração de trabalhadores e a próxima que ainda virá?
Sirlei Stocchero – Mentora Internacional